Na última semana, o Instituto Nacional da Farmácia e do Medicamento (Infarmed) suspendeu a exportação de 110 medicamentos, como é o caso do antibiótico amoxicilina, o anti-inflamatório ibuprofeno, paracetamol, entre outros. A escassez destes medicamentos nas farmácias comunitárias e hospitais (cuja reposição somente se prevê para daqui a alguns meses) é o motivo principal que levou à tomada desta decisão.
O bastonário dos farmacêuticos, Sr. Helder Mota Filipe, afirma que "a situação tem vindo a agravar-se e, muito provavelmente, vai agravar ainda mais, porque todas as causas que estão na sua base se vão manter". Atualmente não foi identificada nenhuma situação grave de saúde pública, ou seja, não existem doentes que precisem do medicamento em falta e para o qual não haja uma alternativa. O foco, segundo o bastonário, deveria ser a implementação de uma reserva de medicamentos à qual o Estado possa recorrer em situações de escassez, como a que se tem observado, para assim diminuir o risco de um problema de saúde pública.
Outra medida importante seria a criação de uma lista de equivalentes terapêuticos, em particular para o caso de situações mais complicadas. Atualmente, em Portugal, quando um utente se dirige a uma farmácia para comprar um medicamento com receita e esse não está disponível, não se pode dispensar um alternativo. Em muitos casos, a solução passa por ir novamente ao centro de saúde, pedir nova consulta e nova receita, vaivém que não é viável em situações como o de uma infeção respiratória numa criança, casos que têm aumentado nestes tempos, resultantes de dificuldades no acesso à amoxicilina pediátrica.
O problema tem vindo a aumentar nas últimas décadas, principalmente pela aposta da Europa em deixar a produção e investir em mercados de produção mais barata e de qualidade, como a Índia e a China. Fenómenos como a pandemia que fecharam os laboratórios durante muito tempo, e agora com a situação na Ucrânia e a inflação, leva esta situação a agravar-se ainda mais. Por exemplo, existem matérias-primas que eram produzidas no Leste, e que deixaram de o ser, atrasando a produção dos medicamentos, como é o caso do alumínio, em que sem ele não é possível fabricar os blisters para as embalagens.
|