Tendências para o setor energético em 2023
As alterações climáticas, a dependência energética da Rússia, a obrigação de redução das emissões de carbono e muitos outros fatores potenciaram a importância da transição energética, estando este tópico no topo da agenda e das preocupações mundiais.
A empresa multinacional americana-irlandesa de gestão de energia Eaton apresenta assim as 5 tendências para o setor dos serviços de energia em 2023.
Tendência 1: Produção descentralizada de energia
Ao longo dos anos tem sido testemunhada uma alteração significativa nas “fronteiras da rede”. Antigamente, as casas, empresas e indústrias que consumiam energia estavam “atrás do contador”. Com a nova possibilidade de gerar parte da sua própria energia (através de ativos como painéis solares), e gerir a sua própria oferta e procura com sistemas de armazenamento de energia, estas entidades avançaram “para a frente do contador”.
Este novo grupo, designado por Prosumers (porque produzem e consomem energia), marca o caminho a seguir num mercado energético que tem de se afastar da forte dependência dos combustíveis fósseis para mitigar as alterações climáticas.
Para as economias nacionais, a energia gerada internamente (mesmo que em pequena escala), reduz a dependência das importações e aumenta a segurança energética. No entanto, esta descentralização acarreta dificuldades e desafios para o setor dos serviços energéticos que têm de equilibrar o fluxo variável de energia proveniente dos Prosumers e das energias renováveis comerciais, com uma oferta estável, nomeadamente em alturas de pico de procura na rede.
Tendência 2: Flexibilidade do lado da procura
À medida que os Prosumers se familiarizam com a geração de energia, também começam a perceber como podem monetizar toda a produção e capacidade de armazenamento. Este novo contexto representa um grande desafio para os operadores de rede distritais Distribution network operator (DNOs) que estão a ter dificuldade em ajustar-se à realidade emergente de terem de lidar com fluxos de energia bidirecionais, em redes desenvolvidas para fluxos unidirecionais de apenas alguns geradores para muitos consumidores.
Para conseguirem otimizar a gestão de questões como o congestionamento da rede que os fluxos de produção de energia podem causar, os DNOs terão de se aproximar dos District System Operators (DSOs). Durante 2023, o debate sobre a estrutura dos DNOs e dos DSOs irá cristalizar. De acordo com um novo estudo da DNV (Det Norske Veritas: fornecedor líder mundiail de certificação, garantia e gerenciamento de risco), publicado pela SmartEn, desencadear a ativação total da flexibilidade dos edifícios, veículos elétricos e indústria em 2030 reduziria os custos de investimento na rede de distribuição em até 29,1 MM€ por ano. Também poderia poupar aos consumidores até 71 MM€ por ano, evitar 15,5 TeraWatt-Horas de limitações da eletricidade produzida a partir de fontes de energia renováveis, 2,7 MM€ correspondentes à geração de picos, e evitar 37,5 milhões de toneladas de emissões anuais de gases com efeito de estufa.
Tendência 3: Digitalização
Esta nova realidade do modelo energético complexo que engloba muitos pontos de fornecimento e consumo variáveis deve ser gerida digitalmente, no entanto os serviços públicos estão divididos entre o progresso da digitalização das suas redes e a atualização da infraestrutura existente.
Um estudo internacional concluiu que o setor das empresas de serviços públicos está num ponto crítico de transição. O desafio passa por manter a rede e os níveis de serviços atuais, (apesar das crescentes exigências e do envelhecimento da infraestrutura existente), enquanto se enfrenta a necessidade de mudar os modelos de serviço e aplicar a informação extraída da análise de dados para otimizar as operações.
Tendência 4: Cibersegurança
A descentralização e a digitalização envolvem o processamento de um grande volume de dados. Quantos mais dados existirem num sistema, mais vulnerabilidades existirá. Esta vulnerabilidade implica uma maior proteção dos dados, que se resume no reforço da Cibersegurança. Existe uma responsabilidade coletiva em preparar a rede para a transição energética, bem como assegurar que nenhum ciberataque possa comprometer os edifícios.
Os setores da energia e cibersegurança terão de unir forças e trabalhar em conjunto para salvaguardar a rede e garantir que as ambições net-zero não sejam comprometidas por ciberataques. Os governos também devem trabalhar em estreita colaboração com o setor energético para este fim, de modo a garantir a robustez de toda a estratégia através da adoção de investimento privado e de novas tecnologias inovadores que preparem o caminho para melhores processos e estruturas de gestão de risco.
Tendência 5: Comutador livre de SF6
Hexafluoreto de enxofre ou SF6, é um gás amplamente utilizado nos comutadores de energia elétrica em Média e Alta Tensão, que em condições adversas pode ser prejudicial à saúde. Nesta perspetiva, a UE e outros países como o Reino Unido estão determinados em proibir o uso deste gás a partir desta década. Os serviços públicos, juntamente com os muitos outros setores que usam este tipo de comutadores terão de se adaptar à nova realidade e optar por outras alternativas para projetos futuros. A proibição disputará um aumento de custos das recargas e do descomissionamento e reciclagem em fim de vida.
A decisão de abolir o SF6 não é difícil e deve ser tida em conta este ano. A tecnologia de comutadores de média voltagem sem o uso de SF6 está madura, e amplamente disponível na gama até 24kV, inclusive. A sustentabilidade é um dos temas fortes e transversais a todas as indústrias, por isso é importante acompanhar as tendências e aproveitar os desafios para criar oportunidades.